NOTICIAS DO CONCELHO 

Edição de Março 2024 do Planalto Barrosão 

A HISTÓRIA DE UMA REGIÃO QUE NÃO ACABA AQUI 

A identidade geográfica barrosã, actualmente apenas histórica, tem uma grande tradição autonómica regional: corresponde à antiga terra de Barroso, dotada de foral em 1273 por D. Afonso III, aí se incluindo os concelhos medievais de Montalegre, de Boticas – então centrado em Covas de Barroso e de Ruivães, extinto em 1853. Porta de passagem da Galiza para Portugal - e vice-versa - Montalegre, acolhe os galegos com o mesmo espírito com que estes vêm a Montalegre, uma comarca vizinha. Padres, médicos e veterinários prestam até parte dos seus serviços, de um e outro lado da fronteira.  E já assim acontecia em tempos remotos, muito antes da abolição das mesmas, sob os auspicios dos ventos europeus. Em tempos, houve até gente que desenvolvia a sua actividade profissional do lado de lá ou do lado de cá da fronteira. E não era só em épocas sazonais que tal acontecia.Falando então do concelho de Montalegre, há que dizer que a sua área é enorme. 

Porém, os seus 800 quilómetros quadrados de serras e planalto são escassamente povoados. Nela se incluem serca de onze mil habitantes, o que lhe dá uma densidade populacional pouco superior a 17 habitantes por quilómetro quadrado. Não se bastando com serem poucos, os barrosões estão também em retrocesso demográfico. Morrem muitos mais do que nascem, o que cada vez mais se nota na ocupação do território e na paisagem, hoje em dia entristecida pela proliferação de aldeias em desertificação, apenas povoadas por respeitosos gerontes, saídos de um conto de antanho de Miguel Torga, Lourenço Fontes ou Bento da Cruz. A maior parte da população vive no planalto barrosão, que se estende desde os contrafortes do Gerês à depressão do vale de Chaves.  O resto do concelho é montanhoso e agreste. Proporciona miradouros esplêndidos, de onde se disfrutam verdadeiras "obras paisagisticas". Aliás, todo o território de Montalegre é muito elevado, o que marca indelevelmente o clima. 

De entre as elevações, merecem destaque a serra do Larouco que, com os seus 1527 metros de altitude é a segunda mais alta de Portugal Continental, a serra do Gerês, com os seus píncaros escarpados e elevados, revestidos de vegetação e povoados de fauna abundante, e ainda, a serra do Barroso, também conhecida localmente por serra das Alturas, por ter o seu ponto mais elevado próximo da povoação de Alturas do Barroso. O território montalegrense está em parte coberto de florestas. Todavia, são apenas todas de plantação recente, nomeadamente as de coníferas. Apenas nos vales mais abrigados há ainda florestas nativas de carvalhos. Junto aos rios, há choupos e freixos, também plantados, mas para servir de divisórias nos lameiros. A maior parte das terras baixas é de semeadura, onde se colhem as saborosas e afamadas batatas, ou de pastagens, onde se alimenta e cresce o célebre gado barrosão. 

Dos seus antepassados celtas, a população desta terra herdou o carácter orgulhoso e agressivo, do qual resulta um marcado bairrismo, que torna a população solidária, e ao nível da comunidade, autosuficiente. Como em muito poucas zonas do território nacional, a vida e os sentimentos comunitários continuam a prevalecer, embora em menor grau, pelas terras de Barroso, onde igualmente se veneram de uma forma invulgar os familiares desaparecidos. Por outro lado, todos se sentem umbilicalmente ligados à terra que os viu nascer. Porém, paradoxalmente, o povo barrosão é fechado e reservado, quiçá talvez como consequência da sua actividade tradicional principal de pastorícia, que o torna igualmente rude e violento. Mas também o clima, o relevo e a pequena densidade populacional moldaram o carácter rude e austero dos barrosões e determinaram que se agrupassem em aldeias significativas e outrora populosas, com muitas casas próximas umas das outras e aconchegadas. Em regra, não há casas ou quintas isoladas, que seriam muito mais vulneráveis aos temporais, ao frio ou às alcateias de lobos famintos que voltaram a descer das serras no Inverno.  

Nestas aldeias, ao longo das gerações enraizaram-se tradições comunitárias que não poderiam aparecer em pequenas povoações. Entre elas, a vezeira de rês, somente rentável em aldeias grandes; o forno do povo de grandes dimensões; o boi do povo, que para ser campeão exigia grandes despesas no seu trato e outras iniciativas de que aqui irei dar nota.  Por todo o Barroso, houve no passado várias outras ricas tradições de instituições comunitárias, como a administração dos baldios, o ordenamento das águas correntes para rega de lameiros, ou o fojo do lobo.São também determinadas pelo clima as mais características manifestações do artesanato local: a capa e a capucha de burel e a croça.As primeiras, feitas em tecido grosseiro de agasalho e para protecção da chuva e da neve; a segunda, um capote de juncos, destinado ao tempo de chuva, mais utilizada pelos pastores.  O povo que aqui habita, laborioso e esforçado, rende-se por isso à alimentação substancial. Na mesa barrosã é imprescindível o fumeiro, composto entre outros, por chouriças de carne e de sangue. A par dele, come-se também muita carne de porco. São especialmente característicos desta terra, como de toda a terra transmontana, os rojões, que são pedaços de tripa de porco fritos no unto do próprio animal. Em dias de festa, come-se vitela ou cabrito. É também nestas ocasiões que se comem os poucos doces que por aqui se permitem ainda perdurarem: o arroz doce, a aletria e as rabanadas de Natal.   A mais recente especialidade regional é a carne de vitela barrosã, na grelha ou na frigideira sem qualquer tipo de tempero. 

Esta, é enfim, uma terra de vastos e vivos horizontes, mas de poucas e fracas vias de penetração. Um terra que pura e simplesmente tem sido ignorada pelo Poder Central. Contrariando a beleza dos lugares e o ambiente pastoril e salutar onde predomina a natureza selvagem, a vida é difícil por estas paragens. A agrura cria predisposição para a emigração. 

Apesar do natural apego dos barrosões ao seu torrão natal, desde há séculos que a emigração se instalou como uma tradição e instituição. Quer para as Américas, quer mais recentemente para a Europa. Já assim é desde o século XVI, quando um natural da zona, João Rodrigues Cabrilho, a soldo dos reis de Espanha, se tornou famoso por ser o primeiro europeu a pisar a Califórnia. Também por ser terra de emigração, esta é uma terra hospitaleira, não faltando nunca ao visitante a porta aberta para a mesa farta de cozido à moda de Barroso, presunto, cabrito ou vitela assada.

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